 |
Altay Veloso no espetáculo O Alabê de Jerusalém - Solo |
Altay Veloso estreia nesta sexta, em formato solo, (voz e violão) o espetáculo “Alabê de Jerusalém” no Teatro Municipal de Niterói.
Sob a direção de Jayme Periard, a releitura imprime a percepção do renomado diretor sobre a obra.
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Altay Veloso e o diretor Jayme Periard |
Filho de uma
sacerdotisa de cultos africanos e um cantador de jongo, que recheia seus escritos
com lições aprendidas nos exemplos de
seus pais e avós, ele é um homem que se orgulha do orgulho que tem de suas
raízes. Prega a tolerância inteligente e amorosa das diferenças. Acredita que a humanidade
clama por uma reforma imediata. Que seremos chamados à responsabilidade pelo dissabor do nosso próximo e que ao homem, toda realização é possível.
Ao longo de
sua jornada, ALtay compôs mais de 450 músicas, gravadas por nomes como Elba Ramalho, Vanusa, Daniel Camilo, Nana Caymmi, Roberto carlos, Exaltasamba, Zizi Possi, Leonardo, Selma Reis, Jorge Aragão, Wando, Alcione, Fat Family, Elymar Santos, Wanderléa, Emílio Santiago, Jorge Versillo, Belo, Alexandre Pires, Netinho de Paula, Fagner entre tantos outros.
Sua primeira música foi composta com o intuito de conquistar o
coração de “Celinha”, sua esposa. Deu certo! E desde então, Altay baila com
intimidade,pelos vários ritmos e estilos musicais, sem perder no entanto sua
essência musical, dominando com maestria seu ofício de emocionar!
Altay conversou com a Boutique da Música, sobre a concepção
primária do Espetáculo, as transformações, os desafios e imensas alegrias em
caminhar lado a lado de Alabê.
Altay: - O
espetáculo já foi produzido em quatro formatos: - O concerto, com grande elenco
no Canecão, o espetáculo cênico no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com 74 pessoas
em cena, No City Bank Hall com 60 pessoas, no Vivo Rio com 54 pessoas e o
concerto com 8 pessoas no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
O ‘Alabê’ é assim porque primeiro eu fiz a
ópera e depois construí o livro. Se tivesse sido ao contrário, eu não conseguiria
todas essas vertentes e liberdade de criação.
A narrativa
do espetáculo, gira em torno do período que o Alabê viveu em Israel.
O livro
conta o início de tudo, desde quando ele sai da sua tribo em Daomé, passa por
vários países da África como Egito, Roma, Judeia. O pano de fundo é mais rico e detalhado. O espetáculo solo tem
um pouco do livro, dessa andança. E com a direção do Jayme Periard, e só com a
direção dele, isso foi possível. O Jayme sabe tudo de teatro, foi muito cruel
comigo, (risos) arrancou de mim o “ator”
que eu nunca imaginei que pudesse ter aqui dentro. Se eu correspondi as
expectativas dele, eu ainda não sei, mas eu aprendi muito.
Valéria: - O Jayme me confidenciou que percebeu
o ator nato em você, desde o princípio. Como foi essa descoberta?
Altay: - Obediência. Eu sou uma pessoa
muito obediente. Eu obedeço a tudo que se deve obedecer. Eu tomo “a benção” a
minha mãe. Dou “a benção” aos meus filhos. Eu faço tudo certinho, para poder
ser livre para voar. Eu me coloquei nas mãos do Jayme, pra ele arrancar de mim,
tudo. Quando você se entrega, as coisas acontecem. Eu sou três pessoas: - Uma
que age, uma que fica em dúvida e a outra que observa. Foi esse terceiro “eu”,
que possibilitou o Jayme trabalhar.
Valéria: - Você literalmente se colocou
como “vaso na mão do oleiro”?
Altay: - Sim, sim! Eu disse: - Fique à vontade.
Interessante, é que toda hora que eu ficava
aborrecido com ele, por algum detalhe, esse terceiro cara dizia: - Calma aí... Eu
tô te olhando aqui... Não é assim não! (risos)
Eu fiquei
calado, aprendi muito e o Jayme pôde tirar de mim o que pretendia. Foi um
diálogo maravilhoso. Quando você se apaixona por uma vertente da arte, todas as
outras nuances bailam muito próximas a você. Eu jamais imaginei que pudesse
escrever um livro... No máximo uma página com uma música... Imagina uma ópera? E
eu já estou no terceiro livro.
Valéria: - Qual foi o ponto mais difícil
pra você na montagem da leitura solo?
Altay:- Decorar os textos! Eu tenho uma
memória muito frágil! (risos desta que vos escreve. Altay declamou todos os trechos em grifo, sem consultar
nenhum escrito)
É um problema sério... Eu esqueço o nome das
pessoas, volto num lugar e tenho que perguntar novamente, como se chega...
(risos) Entrar em cena é sempre difícil. Se a Bibi Ferreira confessa que “morre
de medo dos ‘brancos’”, imagina o medo que eu tive...
Mesmo com
esse medo, foi possível. Eu acredito que o ser humano deveria experimentar tudo
a que se propõe. Nós somos ”ilimitáveis”. Viver 250 anos é pouco pra nós.
Valéria: - Muito se fala sobre a
origem, a existência, a benção do Alabê,
como sendo algo mais que uma ficção. Algo mais que uma figura do drama. Qual é
a sua percepção sobre este assunto?
Altay: - Durante a construção da obra, pessoas
falavam que eu estava fazendo um trabalho missionário. Eu nunca “embarquei
nessa viagem”, porque o trabalho missionário sempre me passou algo de obrigação,
de sofrimento... Algo por aí... E essa não é “minha praia”. Eu sempre vi como
arte. Essa foi minha sorte! Porque senão você corre o risco de achar que é
detentor de algo fora do comum, de verdades absolutas. E não vejo assim.
Mas...
Depois da obra pronta... Eu tenho conseguido tanto com o Alabê, que penso como
eu consegui?
Eu acabei de
ganhar a Medalha de Ouro da Academia de Artes Cênicas da França. Fui
entronizado na confraria francesa “Cavalheiros de Gutemberg”, por causa do “Alabê
de Jerusalém”... Aí fico pensando: - Seguramente, eu não fiz isso sozinho!!
Semana
passada eu fui a um encontro de líderes de várias correntes espirituais na Ilha
do Governador, que exibiram o “Alabê” e eu fui chamado para dar uma palavra.
Todos ficaram emocionados com a obra.
Fiz um
palestra na Sociedade Teosófica da Madame Blavatsky, e os líderes pediram um momento de silêncio, para agradecerem
a entidade que possibilitou a conexão
entre o “Alabê” e o Altay. Foi muito especial.
Valéria: - E como você se sentiu neste
momento?
Altay: - Assustado! (risos) É um susto
grande, ter tanta responsabilidade. Eu sinto que “ele” (se referindo ao Alabê)
vai me abrindo as portas e possibilitando todas as coisas. O Alabê (se referindo
à obra... ou aos dois) andou muito... E sempre estabeleceu uma relação fraterna
com todos os povos e grupos religiosos. E eu acho que essa é mais ou menos a
minha trajetória no mundo.
Valéria: - É perceptível na obra,
nuances de doutrinas de todas as religiões de que se já teve notícia no mundo.
É possível reconhecer o evangelho, o
catolicismo, o espiritismo, o budismo, as religiões africanas, e todas elas,
cercadas sempre de muito amor pela personagem. Numa complacência terna e respeitosa. Incentivando a aceitação
mútua e multifacetada da humanidade e consequentemente, de sua religiosidade,
desafiando a compreensão de todos. Em nenhum momento é imposto nada. Está além da humanidade, não acha?
Altay: - O Alabê compreende assim. Em
sua trajetória, ele diz:
“...
Caminhei entre os povos e cidades e nenhum país me fez escravo.
Línguas estranhas me ensinaram os segredos.
Ficaram minha amigas”...
Ele foi
assimilando todas as coisas e foi respeitado, por possuir a maior herança que
alguém pode possuir: - Sua cultura. Ele está pronto para compreender o outro. E
ajudar nesta compreensão. Tem um momento que ele pergunta pra um amigo assim:
“Porque não existe no céu da Palestina
Uma divindade de natureza feminina?”
E o amigo
responde:
Ó Alabê, o seu Daomé tem água que não termina
A terra de lá é farta, não é como a terra ingrata
da Palestina
É por isso que seu panteão tem deusas de
vários nomes.
Mas aqui é diferente!
Para se pôr o pão na mesa, não cabe a
delicadeza,
É por isso que Deus é homem.”
E em outro
momento, ele afirma:
“ Não há como unificar os homens,
Nem os agrupar numa única fé
Nem tão pouco por que.
É mais bonito saber que Deus se manifesta
de muitas formas diferentes
De
que em nenhum lugar é ausente.
No Egito onde adoravam a Ísis,
Não vi nenhum deles, menos felizes que
nenhum de nós.
Quando estive nessas terras, rezei também a
ela
E não tenho dúvida que a divindade do Nilo
Veio sempre em meu auxílio
Quando ouviu a minha voz.
E como poderia eu querer que na Judéia,
Reverenciassem a divindade dos rios
Se aqui os rios são poucos?
Como se poderiam reverenciar a divindade
das florestas
Se aqui as florestas não existem?
E como poderiam acreditar que Iemanjá é a
rainha do mar
Se aqui o mar, é Mar Morto?
Não há como unificar os homens.
Senão, que seria daqueles que não acreditam nas coisas que são tocadas
Eu sou um grande amigo de um desses
Posso dizer com segurança, conheço poucos
com tanta elegância
Com tanto senso de ética...”
O Alabê compreende a diferença do outro, como
um presente. Como um grande aprendizado. Existiu um momento de partida para humanidade, que melhorou muito com a
religião. Hoje, eu acredito que estamos vivendo num outro momento.
Eu creio que
a religião, da forma como foi sendo conduzida, ou interpretada, afastou um
pouco o homem de sua raiz. De sua origem da terra. Foram-se criando céus e
infernos e outros lugares, que o homem esqueceu-se de valorizar a sua terra, a
sua natureza, esqueceu-se do seu
semelhante, fazer o seu melhor aqui e agora. A mãe natureza se esforça dia a
dia para nos garantir todo beneplácito, para garantir nosso sustento e nossa
rotina, e o homem tem sido ingrato...
Sempre
envolvido e preocupado com a questão social, Altay cita como exemplo a ser
seguido,o Nobel da Paz, Prof Muhammad Yunus, que
desenvolveu um projeto em parceria com a francesa Danone. A empresa passou a
produzir iogurtes e afins, “mega” vitaminados e acabou com a desnutrição infantil
em Bangladesh.
Acredita no negócio social e traz à
baila a ficção social, que é a capacidade de sonhar com o bem do outro, pelo
nosso próprio bem: - “É preciso se criar a ficção social. Para que a gente seja
capaz de sonhar com um mundo novo... Para que essas imensas diferenças sociais
possam um dia, ser atenuadas. Não dá mais pra ficar insensível à fome, ao
sofrimento de algumas pessoas e passar incólume... Não fazer nada. Existe uma
responsabilidade”.
A situação é mais ou menos assim: - “Vovô, tem uma criança ali na rua sofrendo. Faz alguma coisa, porque senão,
amanhã quem vai sofrer sou eu...”
É fazer o bem pelo próximo, que
faremos aos nossos... Eu acabei de escrever um musical, chamado “Lábios de cuba
libre” que diz assim:
“O grito que tu ouves na rua escura da cidade
As mãos trêmulas que te incomodam nos becos, nas esquinas
O ‘pelo amor de Deus’ que te persegue a caminhada
A sombra que te espanta na noite escura
Sou eu.
O fruto de uma realidade
Que a fúria da cidade não tem como esconder.
Meu corpo é um espantalho, errante das estradas
Eu ando pelas ruas pra me perder
Meu ódio é uma navalha que não tem corte
Minha vida é de uma flor, expulsa de um jardim
Meu filho é um guerreiro abatido pela sorte
Eu ando pelos botequins
Meu cais é a soleira, porta de uma igreja
Onde os filhos de Deus, brincam de dar suas glórias
Meu canto é lamento perdido na noite
Aos olhos tristes de Nossa Senhora
E por essa vergonha, essa indecência
Diante desses olhos meus
Meus filhos crescerão nestas noites tristonhas
E arrancarão o “vai” dos teus.”
Assim é Altay!
O futuro bem próximo promete!
Altay está gravando um novo CD. Que
não queria gravar. Ele queria se dedicar exclusivamente à escrita. Mas o
argumento conquistador de seu grande amigo Raimundo Lima, baiano, residente
em Angola e apoiador do projeto, o convenceu. Ainda bem!
O disco traz grandes sucessos de sua
carreira e conta com a participação de músicos “suprassumos”: - João Carlos Coutinho ao piano, Jorge Helder no
contra baixo e Pantico Rocha na bateria, com lançamento previsto para agosto
deste ano. Oba! Nossos agradecimentos sinceros a Celinha!
Também para agosto deste ano, está
programado o lançamento do DVD duplo do espetáculo e making off, de “Alabê
de Jerusalém” gravado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com grande elenco.
E como fôlego e criatividade não faltam a esta “entidade” humana, Altay está envolvido com a produção da
revista em quadrinhos “Alabê de Jerusalém”. As ilustrações ficam por conta do
traço especial de Ricardo Goulart, desenhista gonçalense.
Esse Alabê sempre dará o que falar!!!
Para nossa sorte!!
O show no formato solo de “Alabê de
Jerusalém”, que promete mostrar uma nova e desafiadora faceta de Altay Veloso, em
toda sua dramaticidade, com novas canções, textos e personagens, sob a batuta caprichosa do diretor "durão" Jayme Periard, acontece nesta sexta, 21/7/2013 as 21h.
Teatro Municipal de Niterói
Rua XV de Novembro, 35 – Centro –
Niterói
Informações: (21) 2620-1624
Inteira R$ 40,00
Meia R$ 20,00
Classificação etária: 12 anos
Beijos,
cheios de amor à música!!!!